A síndrome dos ovários policísticos (SOP) acomete um grande número de mulheres em idade reprodutiva, chegando a 18% dessas e sendo considerada uma das doenças endócrinas mais comuns. Caracteriza-se basicamente por produção aumentada de hormônios, os androgênios, pelos ovários. Ao longo dos anos seu diagnóstico vem sofrendo modificações e, atualmente, se baseia nos critérios de Rotterdam, estabelecidos em 2004, onde a paciente necessita preencher pelo menos dois dos seguintes critérios: presença clínica e/ou laboratorial de excesso de androgênios, irregularidade menstrual e aparência policística do ovário ao exame de ultrassom. Além de preencher tais critérios, algumas doenças devem ser excluídas pelo especialista para determinar o diagnóstico de SOP, entre elas a hiperplasia adrenal congênita, a síndrome de Cushing, tumores secretores de androgênios e doenças tireoidianas.
Os androgênios são hormônios sexuais presentes tanto nos homens quanto nas mulheres e são produzidos principalmente pelas glândulas adrenais e gônadas, que são os ovários nas mulheres e os testículos nos homens. Quando a produção destes hormônios está em nível acima do normal no sexo feminino pode levar a características “masculinas”, como excesso de pelos, acne e até mesmo alopecia (calvície). Sabe-se hoje que o espectro da SOP é extremamente amplo, havendo desde mulheres sem estas características físicas de excesso de androgênios e que ovulam eventualmente, até casos mais severos, com acne intensa e aumento de pelos corporais em locais tipicamente masculinos (como buço e queixo), bem como infertilidade.
Apesar das alterações físicas, da irregularidade menstrual ou da dificuldade para engravidar ser, em muitos casos, o motivo de procurar um especialista, a SOP envolve muitas outras condições. As mulheres acometidas apresentam uma prevalência muito maior de obesidade, resistência insulínica, colesterol elevado e hipertensão arterial, o que leva ao aumento de risco para doenças cardiovasculares a longo prazo.
Cerca de 75% das mulheres com a síndrome estão acima do peso, sendo a obesidade presente em 30 a 50% delas. Além de elevar os riscos cardiovasculares, o excesso de peso piora também a própria evolução da SOP, dificultando a sua melhora clínica. A elevação de insulina no sangue, um importantíssimo fator de risco para o desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2, está presente em 80% destas pacientes obesas, mas acomete também até 40% das pacientes de peso normal.
A primeira linha de tratamento deve sempre incluir mudanças de hábitos de vida, com alimentação saudável e prática de atividade física regular, independente do excesso de peso, e emagrecimento (quando indicado). O endocrinologista deve, além de estabelecer o diagnóstico correto, identificar as condições associadas e avaliar a melhor conduta para cada paciente. Além das mudanças comportamentais, o especialista avaliará a necessidade e a indicação de tratamento medicamentoso.
Referências:
Clapauch, R. Endocrinologia Feminina e Andrologia. Editora Gen. 2012.
Spritzer, PM. Primary and secundary prevention of metabolic and cardiovascular comorbidities in women with polycystic ovary syndrome. Rev Bras Ginecol Obstet. 2015, jan; 37(1):1-4.
Gody-Matos, AF. Endocardio Metabologia na Prática Clínica. Editora Gen. 2011.
Dra. Denise Rovinski
Médica Endocrinologista
CREMERS 34.953 - RQE 28.389
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