O hipotireoidismo durante a gravidez aumenta o risco para uma série de complicações, entre elas:
- pressão alta e pré-eclâmpsia;
- descolamento de placenta;
- parto prematuro;
- baixo peso ao nascer;
- aumento nas taxas de parto por cesariana;
- hemorragia após o parto;
- mortalidade neonatal;
- problemas no desenvolvimento neurocognitivo do bebê.
Hoje, os exames para avaliar o funcionamento adequado da tireoide são amplamente disponíveis e acessíveis. Logo, existe interesse crescente em avaliar mulheres grávidas com vistas a prevenir as complicações acima descritas.
No entanto, a prática conhecida como “rastreamento universal”, isto é, fazer exames de tireoide em toda mulher grávida, ainda é controversa.
Muitos obstetras e endocrinologistas preferem indicar a avaliação da função tireoidiana quanto existe suspeita de que algo possa estar errado – rastreamento em grupos de alto risco.
As mulheres que se enquadram em qualquer um dos itens abaixo são candidatas aos exames de tireoide:
- sintomas de hipotireoidismo - alguns como cansaço, ganho de peso e intestino preso podem ser confundidos com sintomas da própria gravidez;
- história familiar ou pessoal de doença na tireoide;
- história de anticorpos anti-TPO elevados;
- presença de bócio (aumento da tireoide);
- idade maior que 30 anos;
- diabetes tipo 1;
- história de radioterapia na cabeça ou pescoço;
- história de perda fetal ou parto prematuro;
- duas ou mais gestações prévias;
- infertilidade;
- uso recente de amiodarona, lítio ou exames contrastados.
O motivo da controvérsia é que a estratégia de fazer exame apenas nas gestantes de alto risco deixa de detectar até 30 por cento dos casos de hipotireoidismo. Por outro lado, os estudos que testaram o rastreamento universal não evidenciaram menor risco de complicações obstétricas com esta abordagem.
As gestantes candidatas à avaliação devem dosar o TSH no primeiro trimestre.
1- Se o TSH estiver entre o limite inferior trimestre específico da normalidade para o exame e 2,5 mUI/L, a maioria das mulheres não precisará de avaliação complementar. Exceções são as mulheres com anti-TPO positivo, história de tratamento com iodo radioativo, de cirurgia na tireoide ou radioterapia na cabeça ou pescoço. Estas merecem ser reavaliadas a cada trimestre da gestação.
2- Se o TSH for maior que 2,5 mUI/L, o anti-TPO também precisa ser avaliado. Se o anticorpo for positivo, o tratamento com hormônio tireoidiano pode ajudar a prevenir complicações.
3- Se o TSH for maior que o limite superior trimestre específico da normalidade para o exame, o T4 livre deve ser avaliado para estimar o grau do hipotireoidismo e definir a melhor forma de tratamento.
Com estes resultados em mãos, o endocrinologista avalia a necessidade de tratamento, calcula a dose mais apropriada da reposição hormonal e planeja o seguimento.
Fonte: Ross DS. Hypothyroidism during pregnancy: Clinical manifestations, diagnosis, and treatment. UpToDate.
Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Doutor em Endocrinologia
CREMERS 30.576 - RQE 22.991