A metformina foi lançada para o tratamento do diabetes mellitus tipo 2 (DM2) há quase 70 anos. Nesse período todo, essa medicação sexagenária tem sido ferramenta muito importante no controle de uma das doenças mais prevalentes em todo o mundo. Embora descoberta na década de 20, derivada de uma planta chamada de arruda-caprária ou galega (Galega officinalis), a metformina foi lançada nos anos 50 pelo cientista francês Jean Sterne, que a chamou de “comedora de glicose”. A sua grande capacidade de reduzir os níveis de glicose, a capacidade de não aumentar o peso (até pode reduzir), a baixa incidência de efeitos colaterais e o seu baixo custo tornaram a metformina uma medicação muito popular nas receitas de quem tem diabetes. Aliado a isso, a metformina está no grupo de medicamentos que, além de baixar a glicose, também tem um efeito protetor do coração. Pacientes que tem DM2 e usam metformina têm uma redução significativa na mortalidade por doenças cardíacas. Isso colocou o medicamento no topo da lista e o tornou a primeira escolha para quem tem DM2. Quanto mais tempo usar, mais proteção terá, por isso a recomendação é que se inicie a metformina no momento em que se faz o diagnóstico do DM2, sempre aliado às mudanças do estilo de vida.
O principal mecanismo de ação da metformina envolve facilitar a ação da insulina em seus receptores. Isso resulta em diminuição da produção de glicose pelo fígado, redução da absorção intestinal de glicose e aumento da sua captação nas células. Para melhor controle do diabetes, geralmente a metformina é usada em associação com outras medicações anti-diabéticas. Muitas novas medicações para o diabetes surgiram nos últimos anos, mas a metformina continua sendo a base eficaz no tratamento do DM2.
O que é importante saber sobre o uso da metformina?
1. Qual o melhor horário para tomar a metformina?
Por causa da possibilidade de náuseas e/ou dor abdominal no início do tratamento, recomenda-se tomar os comprimidos de metformina junto ou logo após a refeição. Daí a tolerância é melhor. Depois do organismo estar acostumado ou se nunca teve nenhum efeito colateral, a medicação pode ser tomada antes da refeição, conforme a preferência de cada pessoa. Particularmente, sempre recomendo manter o uso após a refeição.
2. Quantas vezes ao dia e qual a dose diária máxima de metformina?
A metformina pode ser usada 2 a 3 vezes ao dia (por exemplo, após café, almoço e janta). Nas apresentações de liberação prolongada (as chamadas ‘XR’), pode ser usada 1 vez ao dia, pois o seu efeito dura por 1 dia inteiro. Os comprimidos são de 500 e 850 mg na apresentação comum e de 500, 750 e 1000 mg na apresentação de liberação prolongada. A dose diária máxima pode chegar até 2.550 mg e recomenda-se não quebrar os comprimidos.
3. Quais os efeitos colaterais da metformina?
Os principais efeitos colaterais são gastrointestinais, isto é, náusea, vômito, dor na boca do estômago, diarreia, gases, cólica e dor abdominal. Usar após as refeições e começar com doses mais baixas pode ser uma alternativa para melhorar a tolerância. As apresentações XR, por terem liberação mais lenta, têm menos efeitos colaterais. Se os efeitos persistirem, a medicação deve ser suspensa. Cerca de 10% das pessoas não podem manter o uso da metformina, o que é uma pena, pois não se beneficiam do seu efeito cardioprotetor. Uma dica: observe se os efeitos colaterais surgiram quando a marca da metformina foi trocada, pois a qualidade do comprimido é importante.
4. A metformina causa hipoglicemia (queda da glicose)?
Não, a metformina não causa hipoglicemia. Se está ocorrendo, provavelmente é causada por outro anti-diabético oral ou insulina usados junto com a metformina.
Não, a metformina não causa hipoglicemia. Se está ocorrendo, provavelmente é causada por outro anti-diabético oral ou insulina usados junto com a metformina.
5. A metformina pode prejudicar os rins?
A metformina não causa problemas renais. Mas pessoas que têm insuficiência renal (que os rins funcionam menos) precisam usar doses menores ou, se for uma insuficiência renal mais grave, não podem usar a metformina. Isso porque a medicação precisa dos rins funcionando para ser eliminada e caso isso não ocorra pode acontecer um acúmulo de ácido no organismo (acidose lática). A acidose lática é grave e pode levar a um sério comprometimento dos órgãos e até a morte.
A metformina não causa problemas renais. Mas pessoas que têm insuficiência renal (que os rins funcionam menos) precisam usar doses menores ou, se for uma insuficiência renal mais grave, não podem usar a metformina. Isso porque a medicação precisa dos rins funcionando para ser eliminada e caso isso não ocorra pode acontecer um acúmulo de ácido no organismo (acidose lática). A acidose lática é grave e pode levar a um sério comprometimento dos órgãos e até a morte.
6. A metformina emagrece?
Sim , esse é um efeito colateral muito bem-vindo para quem tem DM2. Entretanto, não são todas as pessoas que emagrecem. Não há indicação de uso da metformina como remédio exclusivamente para emagrecer em pessoas que não tem DM2. Cuidado!
Sim , esse é um efeito colateral muito bem-vindo para quem tem DM2. Entretanto, não são todas as pessoas que emagrecem. Não há indicação de uso da metformina como remédio exclusivamente para emagrecer em pessoas que não tem DM2. Cuidado!
7. Ao usar metformina XR, percebe-se eliminar o comprimido inteiro nas fezes. O que é isso?
Isso é normal. As apresentações XR são preparadas utilizando um comprimido que vai se hidratando a medida que percorre o sistema digestivo, liberando lentamente a metformina. No final, esse comprimido pode ser visto inteiro, mas a medicação já foi liberada, o que garante o seu efeito.
Isso é normal. As apresentações XR são preparadas utilizando um comprimido que vai se hidratando a medida que percorre o sistema digestivo, liberando lentamente a metformina. No final, esse comprimido pode ser visto inteiro, mas a medicação já foi liberada, o que garante o seu efeito.
8. Quais são as contra-indicações para o uso da metformina?
Insuficiência renal grave e/ou em hemodiálise; insuficiência cardíaca congestiva; situações em que pode faltar oxigênio no sangue (doenças respiratórias agudas ou crônicas; insuficiência hepática; intolerância ao uso da medicação. Antes de uma cirurgia ou durante uma hospitalização prolongada, deve-se interromper temporariamente o uso da metformina, conforme a orientação médica.
Insuficiência renal grave e/ou em hemodiálise; insuficiência cardíaca congestiva; situações em que pode faltar oxigênio no sangue (doenças respiratórias agudas ou crônicas; insuficiência hepática; intolerância ao uso da medicação. Antes de uma cirurgia ou durante uma hospitalização prolongada, deve-se interromper temporariamente o uso da metformina, conforme a orientação médica.
9. Por que parar a metformina quando fazer exames contrastados (tomografia, por exemplo)?O uso do contraste na veia em alguns casos pode ser tóxico para os rins, ocasionando uma parada no seu funcionamento. Como foi dito acima, se os rins pararem de funcionar, a metformina acumula no organismo e pode gerar uma complicação chamada acidose lática. Recomenda-se parar a metformina do dia do exame até 48 horas após, com controle da função renal (principalmente se já há algum comprometimento renal, mesmo que leve).
10. Posso consumir álcool usando a metformina?
Pode, mas com moderação. Recomenda-se evitar o uso frequente ou em grandes quantidades de álcool devido ao risco de acidose lática. Converse com o seu médico.
Pode, mas com moderação. Recomenda-se evitar o uso frequente ou em grandes quantidades de álcool devido ao risco de acidose lática. Converse com o seu médico.
Usando de forma correta, obtém-se os melhores resultados dessa excelente medicação! Embora com tantas novas medicações para o tratamento do diabetes, viu como essa sexagenária é importante?
Referências:
1. American Diabetes Association Diabetes Care 2017 Jan; 40 (Supplement 1): S64-S74.
2. Thomas I, Gregg B. Metformin; a review of its history and future: from lilac to longevity. Pediatr Diabetes. 2017 Feb;18(1):10-16
3. Bonnet F, Scheen A. Understanding and overcoming metformin gastrointestinal intolerance. Diabetes Obes Metab. 2016 Dec 17. doi: 10.1111/dom.12854.
Dr. Eduardo Guimarães Camargo
Médico Endocrinologista
CREMERS 23.404 - RQE 17.086