O cálcio é um mineral essencial para a prevenção da osteoporose pois é o componente principal do nosso tecido ósseo - nosso esqueleto abriga 99% dos nossos estoques de cálcio. A fonte preferencial de cálcio deve ser a alimentar, mas naqueles pacientes que não conseguem alcançar as necessidades diárias apenas com as fontes dietéticas esta indicada a reposição através de suplementos.
Há muito tempo é discutida a segurança relativa da suplementação de cálcio, alguns pacientes (e mesmo alguns médicos) ainda ficam na dúvida quanto à segurança do uso desses suplementos baseados em informações publicadas há alguns anos atrás que relacionavam o uso do cálcio com um aumento no risco de doenças cardíacas e cerebrovasculares. Entretanto, diversas análises posteriores mostraram que os suplementos de cálcio, com ou sem vitamina D NÃO afetam negativamente os desfechos de doenças cardiovasculares em pacientes de ambos os sexos.
E qual seria a razão desses resultados opostos entre os diferentes estudos? A explicação é que os trabalhos que anteriormente relacionaram o cálcio com aumento do risco cardíaco não tiveram como foco principal, no início do estudo, fazer essa relação, sendo assim, esse foi um achado de certa forma ocasional o que prejudica as conclusões específicas quanto à associação entre o uso do cálcio e o maior risco de infarto e/ou derrame. Depois de publicados esses dados sugerindo riscos na associação, diversos pesquisadores se propuseram a fazer pesquisas para estudar especificamente os riscos da suplementação do cálcio. Um desses estudos, realizados com uma coorte britânica, avaliou mais de meio milhão de pessoas e não demonstrou aumento do risco cardíaco com a suplementação, confirmando a segurança da reposição. Os pesquisadores corrigiram os dados para possíveis fatores de confusão, incluindo a idade, índice de massa corporal e uso de diversas medicações e os resultados permaneceram os mesmos, ainda que os participantes tivessem história de doença cardiovascular no início do estudo.
Sociedades médicas nacionais e internacionais dedicadas ao estudo da osteoporose adotam em suas diretrizes a posição de que o cálcio, independente se de fonte alimentar ou de suplementos, com ou sem vitamina D, não está relacionado com risco de doença cardiovascular, cerebrovascular ou mortalidade por todas as causas. À luz das evidências disponíveis até a data, a ingestão de cálcio, desde que não exceda o nível de consumo máximo tolerável (definido pela Academia Nacional de Medicina como 2000 a 2500mg/d) deve ser considerada segura do ponto de vista cardiovascular.
Lembrando sempre que a obtenção de cálcio a partir de fontes alimentares é sempre a preferida, mas o cálcio suplementar pode ser usado com segurança para corrigir eventuais insuficiências na ingestão. Sendo assim, a interrupção do cálcio suplementar por razões de segurança não é necessária e pode ser prejudicial à saúde dos ossos naqueles pacientes com baixo consumo de cálcio alimentar e que tenha indicação de reposição para prevenção e/ou tratamento de doenças ósseas, como a osteoporose.
FONTES:
1. Lack of Evidence Linking Calcium With or Without Vitamin D Supplementation to Cardiovascular Disease in Generally Healthy Adults: A Clinical Guideline From the National Osteoporosis Foundation and the American Society for Preventive Cardiology – Kopecky SL; Bauer DC; Gulati M; Nieves JW; Singer AJ, Toth PP; Underberg JA; Wallace TC; Weaver CM. Ann Intern Med. 2016 Dec 20;165(12):867-868. doi: 10.7326/M16-1743.
2. Calcium and vitamin D supplementation are not associated with increased risk of ischaemic cardiac events: results from UK Biobank – Harvey NS; D’Angelo S; Paccou J; Edwards M; Petersen SE; Cooper C. Osteoporos Int (2016) 27(Suppl 1): 79
Fernanda M. Fleig
Médica Endocrinologista
CREMERS 33785 / RQE 28970
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