O Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA), em conjunto com a Farsul, Federarroz, Senaer e Sebrae, desenvolveu o Programa de Valorização do Arroz (Provarroz). O principal objetivo deste programa é “levar informações sobre os potenciais benefícios do arroz à saúde”. No entanto, a forma que estas informações vêm sendo veiculadas não é apropriada, pois pode gerar interpretação equivocada por parte da população.
No caso do diabetes mellitus, o Provarroz produziu material impresso para ser disponibilizado dentro de restaurantes com o seguinte texto: “Arroz é saúde. Auxilia no tratamento da diabetes” (foto abaixo). Nenhum alimento isoladamente é capaz de tratar o diabetes, assim como, dentro de um padrão alimentar equilibrado, nenhum alimento é proibido.
No caso específico do arroz diversos fatores parecem influir no seu índice glicêmico, isto é, na velocidade com que o carboidrato é absorvido no intestino fazendo a glicose subir no sangue. O arroz branco, comido puro, em grande quantidade e preparado da forma convencional (cozido em água) tem alto índice glicêmico. Uma revisão sistemática publicada na revista médica BMJ no ano de 2012, avaliou mais de 300 mil indivíduos com seguimento de até 22 anos. Neste estudo, populações asiáticas, com padrão de consumo de arroz parecido com o descrito no início deste parágrafo, apresentaram risco maior de desenvolver diabetes com o passar do tempo (1). Outro estudo, publicado em 2013 no European Journal of Epidemiology chegou a conclusões parecidas (2). Logo, a evidência científica disponível até o momento é categórica em afirmar que o alto consumo arroz branco polido, tipo com maior apreço pelo consumidor brasileiro, na realidade aumenta o risco de diabetes.
Isso não quer dizer que o consumo de arroz deva ser evitado pela população geral ou mesmo por pessoas com diagnóstico de diabetes. Variedades com maior teor de fibras e maior quantidade de amido resistente (integral, preto e vermelho), quando consumidos com moderação, dentro de um padrão alimentar equilibrado e associado a atividades físicas regulares, podem sim ajudar a manter os níveis glicêmicos mais estáveis no decorrer do tempo. Perceba, aqui temos consumo do arroz dentro de um contexto maior de hábitos saudáveis, não como um “suplemento” ou “agente milagroso” para tratar uma doença.
A informação ao ser transmitida para o público geral, além de ser de fácil compreensão e interpretação, deve ser completa. Logo, o material de divulgação do Provarroz merece ser melhor elaborado para que consiga atingir seu real objetivo de “promoção de saúde”.
Referências:
1 - Hu EA, Pan A, Malik V, Sun Q. White rice consumption and risk of type 2 diabetes: meta-analysis and systematic review. BMJ. 2012 Mar 15;344:e1454.
2 - Aune D, Norat T, Romundstad P, Vatten LJ. Whole grain and refined grain consumption and the risk of type 2 diabetes: a systematic review and dose-response meta-analysis of cohort studies. Eur J Epidemiol. 2013 Nov;28(11):845-58.
Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
CREMERS 30.576 - RQE 22.991
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