sábado, 21 de janeiro de 2017

Termogênicos: o que você precisa saber sobre o uso da cafeína

A utilização de suplementos alimentares, com ou sem orientação médica, está cada vez mais frequente, principalmente entre os praticantes de atividades físicas. Esses suplementos são utilizados com 3 finalidades principais: perda de peso, melhora de aptidão física e/ou ganho de massa muscular. Entre os suplementos utilizados para perda de peso e melhora do desempenho estão os termogênicos, sendo que um dos principais representantes desse grupo é a CAFEÍNA. 
O efeito da cafeína varia com a idade, o peso e a capacidade do fígado em processar a substância. Ela é rapidamente absorvida no sangue, dentro de 5 a 15 minutos após sua ingestão, e atinge seu pico de ação em 40-80 minutos, com um tempo de meia vida (tempo em que fica em circulação) que pode variar de 2 a 12 horas.



COMO A CAFEÍNA AGE NO NOSSO ORGANISMO? QUAIS SÃO OS SEUS PRINCIPAIS EFEITOS?
A cafeína pode agir no nosso corpo de 4 formas diferentes:
1. Antagonismo da adenosina:  adenosina é uma substância responsável pela sensação de sono além de ter importante função na circulação, principalmente por seu efeito vasodilatador. O que a cafeína faz é impedir a ação da adenosina, dando um “gás” à atividade neural (o que pode deixar a pessoa mais alerta) e provocando a contração dos vasos sanguíneos, o que parece contribuir com uma pequena elevação da taxa metabólica basal. Ressalta-se que esse bloqueio ocorre mesmo com doses baixas de cafeína, conseguida através de uma xícara de café.
2. Mobilização do cálcio nas células: a cafeína pode levar a um aumento da concentração de cálcio no músculo, o que poderia aumentar a contratilidade muscular.
3. Inibição das fosfodiesterases: as fosfodiestares são enzimas que degradam um mediador químico, chamado AMP cíclico, que participa de várias reações no nosso organismo, como aumento da oxidação de ácido graxos livres (aumentando a taxa metabólica basal) e estímulo à lipólise (“quebra de gordura”). Assim, inibindo as fosfodiesterases, o AMP cíclico fica mais tempo em circulação e seus efeitos são prolongados. Esse mecanismo também parece ocorrer apenas com doses elevadas de cafeína
4. Aumento da oxidação de ácidos graxos: o aumento da lipólise (“quebra de gordura”) faz com que sejam modificadas as fontes de utilização de energia no corpo, diminuindo a utilização de glicogênio e aumentando a oxidação de ácidos graxos. 

QUEM TERIA INDICAÇÃO DE USAR CAFEINA COMO SUPLEMENTO?
Para começar é importante lembrar que não existe nenhuma indicação do uso de cafeína como tratamento para obesidade. A literatura científica tem demonstrado que a cafeína pode ser um suplemento esportivo eficaz, mas vai depender muito da condição e desempenho do atleta, bem como do tipo, intensidade e duração da atividade física. A cafeína pode ser benéfica em doses baixas a moderadas (dose máxima segura parece ser de 5 mg/kg), porém não há evidencia para seu uso em doses altas (≥ 9 mg/kg), pois os efeitos colaterais com essas doses são maiores do que os benefícios. Estudos mostram que a cafeína pode ser eficaz em exercício prolongado e de alta intensidade (incluindo esportes em equipe, como futebol, rugby; ou corridas de aventura e triátlon de longa distância), mas a melhora do desempenho é específica para cada atleta. Alguns estudos, inclusive, demonstram a redução da força e rendimento quando indivíduos não treinados fazem uso de cafeína. Ela também é eficaz em aumentar a vigilância e reduzir a percepção da dor e da fadiga da contração muscular durante períodos prolongados de exercício exaustivo. Quanto aos esportes de força-potência, como musculação, a literatura é inconsistente para indicar uso de cafeína nessas situações.

MAS E OS RISCOS E OS EFEITOS ADVERSOS DO USO DA CAFEÍNA?
A cafeína possuiu diversos efeitos colaterais, entre eles:
- Aumento do risco de palpitações e arritmias cardíacas grave.
- Aumento da vasoconstrição das artérias, inclusive nas artérias do coração que, em indivíduos suscetíveis, pode levar ao aumento do risco de infarto cardíaco. Também pode provocar aumento da pressão arterial, mesmo naqueles indivíduos com pressão arterial prévia normal.
- Aumento da produção de ácidos do estômago, piorando gastrite e propiciando a formação úlceras.
- Transtornos psiquiátricos, agitação, irritabilidade, ansiedade.
- Redução e piora da qualidade do sono.
- Se intoxicação aguda: náuseas, vômitos, crises convulsivas e edema cerebral, com risco de morte
- Risco de abuso (quando há uma necessidade incontrolável de consumir cafeína) e dependência (quando aparecem mecanismos de tolerância ou sinais de abstinência na ausência da substância).

RESUMINDO...
1. Existe evidências de que a cafeína aumenta a taxa metabólica basal por aumento da termogênese, porém esse aumento da taxa metabólica não se expressa em uma perda de peso significativa, logo, cafeína não deve ser usada para a perda de peso.
2. A utilização de cafeína em doses baixas a moderadas parece ser segura e pode ter algum benefício dependendo do tipo do exercício (normalmente os prolongados e de alta intensidade, como futebol ou triátlon), duração da atividade física e do preparo do próprio atleta. 
3. Como qualquer suplemento esportivo, a cafeína não está indicada para qualquer praticante de atividade física!! Seu uso deve ser feito apenas com orientação profissional, de forma criteriosa e com a prescrição baseada no tipo de exercício, intensidade, duração e preparo do atleta. 

REFERÊNCIAS:
1. International society of sports nutrition position stand: caffeine and performance. Erica R Goldstein1, Tim Ziegenfuss2, Doug Kalman et al.
2. Livro Suplementação Alimentar na Prática Clinica – SBEM. 1ª edição.

Dra. Fernanda Meneghini Fleig
Médica Endocrinologista e Metabologista
CREMERS 33785 / RQE 28970

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