domingo, 27 de novembro de 2016

Obesidade e preconceito

Na época atual, onde o progresso da ciência é imenso e o alcance e a rapidez de novas informações não têm precedentes na história, ainda temos concepções cristalizadas sobre muitos temas. Um deles é a  obesidade, que ainda é vista como “consequência de relaxamento” ou “falta de força de vontade” pela maioria das pessoas, inclusive por profissionais da saúde e pelos próprios portadores do problema. Eles frequentemente sentem-se culpados pelos insucessos do tratamento e desmoralizados por não conseguir resolver algo que “só depende deles”.


A obesidade é uma doença crônica, consequência da interação entre os genes e o ambiente, e está implicada no surgimento do diabetes, das doenças cardíacas e em alguns tipos de câncer. Pessoas obesas têm mais chance de morrer precocemente. Infelizmente, alguns fatores tornam o seu tratamento mais difícil. O aumento de peso ocorre com pouca oposição do nosso metabolismo, e esta resposta é menor ainda em pessoas mais propensas à obesidade - aí entra o fator genético. Enquanto isso, a redução de peso leva a uma grande resposta biológica que facilita o reganho de peso, por meio de mecanismos que aumentam a fome e reduzem o gasto de energia. Isto define a doença como recidivante, ou seja, ela tende a voltar.
Além disto, todos nós temos tendência a aumentar o peso no decorrer da vida. Para as pessoas obesas, isto tem uma repercussão ainda maior. Por isso, dizemos que a obesidade tem caráter progressivo.
Como nos mostrou a escritora Jane Austen, em seu clássico “Orgulho e Preconceito”, no início do século 19, a mudança de conceitos pode levar tempo para ocorrer, mesmo quando existem evidências de que eles estão equivocados. Obesidade é doença com graves implicações e deve ser tratada com todos os recursos da medicina atual, desde que devidamente comprovados cientificamente. Ideias errôneas, tanto por parte dos pacientes, quanto por parte dos profissionais de saúde, reduzem a chance de sucesso do tratamento. Precisamos superar o nosso "orgulho e preconceito" em relação à obesidade e conferir a devida importância  ao seu tratamento.

Mais detalhes em:  Biology's response to dieting: the impetus for weight regain. MacLean P, Bergouignan A, Cornier M , JackmanM. Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol. 2011 Sep; 301(3): R581–R600.
Dra. Simone Peccin
 Médica Endocrinologista e Metabologista
CREMERS 18.941 - RQE 9.619

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