Uma vez confirmado o diagnóstico de doença hepática gordurosa não alcoólica, isto é, acúmulo de gordura no fígado de causa metabólica, os próximos passos são avaliar a gravidade do quadro e definir uma estratégia de tratamento. Neste texto, vamos entender quais os principais pontos no manejo da esteatose hepática.
Pode soar um tanto desanimador, mas de todos os tratamentos já investigados para o manejo da esteatose hepática, apenas a perda de peso apresenta uma relação benefício/segurança apropriada. Ou seja, para que o acúmulo de gordura e a inflamação no fígado diminuam, a redução de alguns quilos deve ser o foco! Em um estudo, a perda de 9% do peso garantiu melhora na inflamação das células do fígado em 72% dos indivíduos com esteatose. Nos que perderam apenas 0,2% do peso, a melhora foi de 30 por cento.
A velocidade de perda de peso também parece ser importante. Quando a perda de peso é maior que 1 quilo por semana, pode haver piora dos danos ao fígado. Logo, dietas muito restritivas podem ser prejudiciais.
Nas pessoas com dificuldade em perder peso, o uso de medicamentos como inibidores do apetite pode ser útil, desde que adequadamente indicados e devidamente associados à mudança no estilo de vida. Atividades físicas regulares e uma alimentação caracterizada especialmente por alimentos integrais (frutas, vegetais e cereais integrais), pobre em carboidratos refinados (açúcar, farinha branca, doces e produtos altamente processados) e com a presença de peixes (fonte de ômega 3) são muito bem-vindas.
Como os pacientes com esteatose hepática estão em risco de apresentar tanto complicações cardiovasculares quanto hepáticas, o tratamento de outros fatores de risco para essas comorbidades deve ser instituído. Em outras palavras, os níveis de glicemia, de colesterol, de triglicerídeos e da pressão arterial devem ser cuidadosamente monitorados e tratados. Além disso, o consumo de álcool e cigarros deve ser fortemente desencorajado, e os pacientes ainda não imunizados devem ser vacinados para hepatites virais.
Dos medicamentos até hoje testados para o tratamento específico da esteato hepatite não alcoólica, apenas a pioglitazona mostrou redução mais robusta na progressão da fibrose hepática. No entanto, seu uso é reservado para pacientes com biópsia do fígado mostrando atividade inflamatória e fibrose.
Alguns outros medicamentos estão sendo testados dentro de estudos clínicos, mas até agora nenhum mostrou perfil de eficácia e segurança apropriado quando o objetivo é o tratamento da doença gordurosa hepática.
Em resumo, o tratamento do fígado gorduroso se apoia na mudança do estilo de vida com foco na perda de peso, além da abordagem apropriada dos demais fatores de risco para complicações cardiovasculares e hepáticas. O uso de medicamentos é reservado para casos selecionados.
Fonte: Natural history and management of nonalcoholic fatty liver disease in adults – Up To Date OnLine
Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
CREMERS 30.576 - RQE 22.991
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