domingo, 23 de junho de 2019

Aplicação de insulinas: o que eu preciso saber?

A insulina é parte fundamental do tratamento de pacientes com diabetes mellitus tipo 1 (DM1) e, também, em vários pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Por isso, é extremamente importante conhecer a técnica adequada de aplicação e os insumos disponíveis para aplicá-la. Vamos a eles.


VIA/ LOCAIS DE APLICAÇÃO:

A insulina deve ser aplicada no subcutâneo, uma camada localizada abaixo da nossa pele. Independente do sexo, raça, peso corporal, todos nós temos uma espessura de pele de 2,2 milímetros, em média. Isso quer dizer que praticamente TODOS os pacientes vão se beneficiar do uso de agulhas entre 4 e 6 milímetros.
Os locais de aplicação podem ser vistos na figura abaixo.


- Região do abdome – NÃO APLIQUE AO REDOR DO UMBIGO! Feche sua mão e coloque ao lado da cicatriz umbilical – a sua mão é a medida mínima para distar do umbigo.
- Região da coxa – nunca aplique na face interna da coxa, aplique na “frente”, como mostra a figura – Relaxe a perna. De preferência, deixe ela esticada, sem contrair o músculo.
- Região posterior do braço – no mínimo, 3 dedos acima do cotovelo – dobre o braço ao aplicar.
- Região posterior, aplique acima do glúteo, aonde inicia o bumbum.
FAÇA RODÍZIOS – EVITE APLICAR INSULINA SEMPRE NO MESMO LOCAL


PREPARO DA INSULINA:

 A insulina NPH (aquela insulina leitosa, “branca”) precisa sempre ser misturada antes de aplicar. Deite o frasco ou caneta na sua mão aberta e role com a outra mão em movimentos de vai-e-vem: 20 vezes (figura abaixo). Após isso, pode aplicar. 
Todas as demais insulinas NÃO precisam ser misturadas.


SERINGAS E CANETAS:

As duas formas de aplicar insulina têm diferenças importantes. Em relação ao tamanho das agulhas, temos o seguinte:
- SERINGAS: tamanhos de 6, 8 e 12,7 milímetros – se possível, escolha sempre a de 6 milímetros (agulhas maiores aumentam o risco de aplicar a insulina no músculo). Caso use agulhas maiores, informe-se com seu (sua) médico (a) para aplicar com a agulha inclinada ou fazer pregas na pele.
- CANETAS: tamanhos de 4, 5, 6, 8 e 12,7 milímetros – se possível, use sempre a de 4 milímetros. Em caso de desconforto na aplicação ou outro problema, converse com seu (sua) endocrinologista.
LEMBRE-SE: agulhas devem ser usadas apenas uma vez. Isso garante a esterilidade do material, diminui o risco de lesões e infecções na pele e garante uma aplicação mais confortável.


ARMAZENAMENTO:

Os frascos, refis ou canetas novos devem ser armazenados na geladeira, na primeira prateleira, acima da gaveta de frutas, dentro de um pote plástico com tampa ou na embalagem original. NÃO ARMAZENE NA PORTA. JAMAIS CONGELE A INSULINA. 
Quando em uso, as insulinas (tanto de frasco quanto canetas) podem ser armazenadas no ambiente, desde que em temperatura entre 15º e 30º C. Não deixe sua insulina exposta à luz solar direta, em ambientes muito quente ou em cima de aparelhos elétricos que aquecem. Armazene ela em locais arejados, escuros e com temperatura amena. 
LEMBRE-SE: insulinas abertas devem ser usadas por, no máximo, 30 dias (em média, algumas podem durar um pouco mais). Ou seja, se já faz 30 dias que você está usando o mesmo frasco ou caneta, pegue um novo, mesmo que ainda tenha restado insulina.


DESCARTE CORRETO:

NUNCA descarte agulhas ou seringas em lixo comum. A melhor saída é adquirir os coletores perfurocortantes (DESCARPACK® - valor médio R$ 3,50 reais – figura abaixo). Uma alternativa é utilizar frascos de plástico grosso com boca larga (de amaciante, por exemplo). Entregue sempre esse material nos postos ou unidades de saúde para o descarte correto.


A adoção de técnicas corretas na aplicação de insulina garante mais conforto, melhor adesão e melhor controle do diabetes. Para mais informações, converse sempre com seu (sua) endocrinologista.

Referências: 
1 - Posicionamento Oficial SBD Nº 01/2017 - Recomendações Sobre o Tratamento Injetável do Diabetes: Insulinas e Incretinas.
2 - New insulin delivery recommendations. Mayo Clin Proc. 2016 Sep;91(9):1231-55.

Dr. Thiago Malaquias Fritzen
Médico Endocrinologista
CREMERS 38.580 - RQE 32.525

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Mudanças na composição corporal durante a perda de peso

Indivíduos com obesidade apresentam tanto excesso de tecido adiposo (massa de gordura) quanto de massa muscular em relação àqueles com peso normal, como exposto na figura abaixo.


Durante o processo de emagrecimento, é esperado que ocorra uma perda de ambos, gordura e músculo. Entretanto, perda de grandes quantidades de massa muscular em relação à de gordura podem comprometer a manutenção do novo peso, tendo em vista a íntima relação do músculo com o metabolismo basal, principal componente do gasto calórico diário. A proporção considerada adequada durante a fase de emagrecimento é de 70 a 80% da perda de peso como gordura e 20 a 30% como massa muscular.
A realização de uma dieta restritiva isoladamente pode acentuar essa perda de massa muscular, comprometendo a manutenção dos resultados no médio e longo prazo. Já uma dieta hipocalórica com uma ingestão adequada, mas não excessiva, de proteína combinada à realização regular de exercícios, sobretudo os de força como a musculação, contribuem para a maior preservação da massa muscular, além de melhorar a força durante esta fase de perda de peso!!

Referência:
1 - Cava E, Yeat NC, Mittendorfer B. Preserving Healthy Muscle during Weight Loss. Adv Nutr. 2017 May 15;8(3):511-519.

Dra. Milene Moehlecke
Médica Endocrinologista
CREMERS 33.068 - RQE 25.181

sábado, 8 de junho de 2019

Efeito platô – você já ouviu falar?

O efeito platô, de forma bastante simplificada, corresponde à menor perda de peso desde o início do tratamento. Este efeito costuma ocorrer entre 4 a 6 meses após o início do processo de emagrecimento.
Mas quais os mecanismos responsáveis por limitar a perda de peso?
O aumento do apetite proporcionalmente à perda de peso é um fator tão ou mais importante do que a redução do metabolismo energético.
Estima-se que para cada quilo de peso perdido, ocorra uma redução de 20 a 30 kcal/dia no metabolismo e um aumento no apetite de aproximadamente 100 kcal/dia em relação ao início do tratamento.
O aumento exponencial na ingestão alimentar é o fator primário que limita a perda de peso dentro do primeiro ano.


A figura acima é um modelo matemático proposto para explicar as mudanças descritas durante o efeito platô entre pacientes que apresentaram recuperação do peso (linha azul) e aqueles que mantiveram a perda de peso (linha vermelha).
Neste exemplo, em contraste a uma queda de ~200 kcal/dia no gasto calórico durante o platô, o apetite aumenta em 400 a 600 kcal/dia e a ingestão alimentar aumenta em 600 a 700 kcal/dia desde o início da intervenção.
Estes achados contrastam com os relatos dos pacientes de comerem aproximadamente a mesma quantidade de comida do início do tratamento após o início do platô de peso. Embora eles acreditem realmente que estejam aderindo à dieta e comendo a mesma quantidade de comida, a sensação de fome aumenta e, como a regulação do apetite ocorre em regiões do cérebro abaixo do nível de consciência do paciente, a sua percepção sobre o tamanho das porções fica prejudicada.
E essa tendência progressiva a maior ingestão alimentar pode ser difícil de ser identificada em registros alimentares, devido às grandes flutuações, em torno de 20% a 30%, na ingestão de calorias ao longo dos dias.
Além disso, é necessário um esforço constante do paciente para evitar excessos na ingestão alimentar em decorrência do aumento do apetite que ocorre proporcionalmente ao peso perdido.
Apesar dessas mudanças fisiológicas conhecidas, a resposta típica do paciente é a de culpar-se e de pessoas próximas é a de julgar e criticar, atribuindo o insucesso a problemas de cunho psicológico e/ou de caráter, como falta de força de vontade, de persistência, preguiça, sentimentos que muitas vezes são reforçados pelos próprios profissionais de saúde.
Infelizmente, as tentativas prévias fracassadas contribuem para o menor percentual de pessoas com obesidade procurando ajuda novamente para perda de peso.
Por isso, é importante ressaltar que o grau de perda de peso não deve ser o único parâmetro na avaliação de sucesso do tratamento da obesidade.
Cabe à equipe com expertise no tratamento desta doença apoiar e encorajar os pacientes a manter as mudanças na alimentação e na prática de exercícios físicos, pois estas impactarão em sua qualidade de vida e em diversos fatores associados à saúde em geral, mesmo na ausência de perdas de peso mais significativas.

Referências:
1. Long-term weight-loss maintenance: a metaanalysis of US studies. Am J Clin Nutr 2001;74(5):579–84.
2. Maintenance of Lost Weight and Long-Term Management of Obesity. Med Clin N Am 102 (2018) 183–197.

Dra. Milene Moehlecke
Médica Endocrinologista
CREMERS 33.068 - RQE 25.181