domingo, 3 de novembro de 2019

Como o estigma do peso influi na saúde mental

Um terço da população mundial encontra-se com excesso de peso e, consequentemente, está em maior risco de ser afetada pelo estigma do peso. Embora o estigma e a discriminação sejam considerados uma ameaça a direitos fundamentais como igualdade e inclusão social, esses são frequentemente PROPAGADOS  E  TOLERADOS em nosso meio.



O estigma do peso é geralmente expressado através de estereótipos não fundamentados como o de ser preguiçoso, desmotivado, ter falta de disciplina e força de vontade. Esses rótulos podem levar a prejuízo mental, incluindo rejeição social e discriminação. As razões para o estigma do peso incluem a difundida crença de que o controle do peso é uma consequência da força de vontade pessoal, logo, só seria obeso aquele que não tivesse força de vontade suficiente para aderir às modificações do estilo de vida necessárias - como a dieta e a atividade física.  No entanto, a ciência provou que isso não é verdade! Hoje, a obesidade é entendida como uma doença crônica e, embora a base do tratamento seja a mesma, há anos, compreendemos melhor a fisiopatologia da mesma e sabemos o quanto o tratamento pode ser difícil e frustrante para os nossos pacientes obesos.
Na prática, podemos citar diversas situações em que o obeso passa por discriminação:
- na infância e adolescência, através de bullying provocados não apenas por colegas, como também por parte dos educadores, o que pode acarretar em baixo desempenho acadêmico;
- na idade adulta através da discriminação no ambiente de trabalho, na contratação e, até mesmo na desigualdade salarial.
- nos consultórios de profissionais de saúde, quando estes não estejam familiarizados com a doença, constituindo uma barreira importante para utilização dos serviços de saúde.
A autoestigmatização (quando a própria pessoa aplica a si mesma os esteriótipos negativos de sua doença) está mais fortemente associada com prejuízos à saúde mental do que a estigmatização social, uma vez que é muito mais difícil lidar com o estigma do peso quando ele está internalizado.
A estigmatização e a discriminação NÃO tem efeitos positivos e NÃO tem função motivacional! Ao contrário, a vivência do estigma do peso é associada com distúrbios alimentares - e ganho de MAIS peso - depressão, ansiedade, angústia, redução da qualidade de vida,  baixa auto-estima e insatisfação corporal.
Embora se saiba que a estigmatização contribua para desfechos adversos na saúde, ela é raramente um alvo de prevenção e intervenção  nos indivíduos com sobrepeso/obesidade e suas consequências mentais são frequentemente ignoradas. O apoio social pode ser utilizado para reduzir seus efeitos adversos: empatia, conforto, compaixão podem ajudar muito!
Surge, então, um novo desafio para melhorar a saúde mental: educar as pessoas sobre o estigma do peso e criar políticas para protegê-las contra esse mal.

Referência:
Emmer C, et al. The association between weight stigma and mental health: A meta-analysis. Obes Rev. 2019.

Dra. Luciana Dornelles Sampaio Peres
Médica Endocrinologista
CREMERS 34.995 - RQE 29.637

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